quinta-feira, 21 de outubro de 2010

fênix

para as criaturas de ar, é necessário que as coisas respirem. são como flautas: quando o ar circula, fazem música.
já para as criaturas de fogo, a circulação de ar implica em incêndio. as coisas queimam dentro delas.
são como fênix: precisam queimar tudo, se queimar inteira.
para nascer de novo outra.

Matéria do SBT conta que bolinha de papel atingiu Serra

gosto do link para o mulheres com dilma, site bem interessante...

Matéria do SBT conta que bolinha de papel atingiu Serra

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

conversas possíveis para um absurdo fim

eu não te conheço.
conhece sim. você vinha muito aqui.
você mora aqui?
moro. você ia perguntar: e eu?
como?
você ia perguntar: e eu?
eu sussurro: você mora dentro de mim. como agora.   

você ficou emocionado, não?
porque eu sei que é verdade. eu estou aqui, dentro de você, e sei que moro aqui. desde sempre.
você está chorando?

também estou emocionada. estamos nos despedindo, não é?
você disse: nunca amei uma mulher como você.

nunca amei uma mulher como você. por isso também fico emocionado.
de novo as lágrimas.
eu acho que você nem devia chorar. já passamos pelo pior. agora é a calmaria.
tem razão. fiquei pensando como seríamos nós agora. depois de tudo.
pode ficar tranquilo porque, antes, você explicou tudo perfeitamente bem. você foi claro. Sobretudo.
não. quero dizer agora, enquanto você se aninha ao meu corpo e eu acaricio seus cabelos.
achei que não ia perguntar. queria que o abraço nos tivesse derretido. mas isso não aconteceu.
então nada mudou.
nada mudou.

sábado, 16 de outubro de 2010

conversas possíveis para um absurdo fim II

você sabe o que estamos fazendo?
sim. já fizemos isso antes.
mas você sabe mesmo o que é isso que estamos fazendo?
não estamos casando. nem namorando. nunca mais.
e agora que você sabe continuaremos fazendo isso?
eu já sabia disso quando começamos.

conversas possíveis para um absurdo fim III

você sabe o que estamos fazendo?
sim. já fizemos isso antes.
você não acha pouco para nós?
eu também gostaria muito que fizéssemos mais.
mas você sabe mesmo o que é isso que estamos fazendo?
não estamos casando.
e agora que você sabe continuaremos fazendo isso?
não se preocupe. eu já sabia disso quando começamos.
vamos fazer assim?
eu gostaria muito que fizéssemos isso direito.
também prefiro que façamos direito.

nosso amor pairava acima do real.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

conversas possíveis para um absurdo fim IV

preciso urgentemente tirar o seu corpo do meu.
imagino que você tenha alguma idéia sobre isso.
andei considerando algumas possibilidades: um ritual de purificação.
não sou encosto.
sexo com desconhecidos.
é. você precisa urgentemente tirar o meu corpo do seu.
eu já havia dito isso.
vai deixar uma marca.
sexo com desconhecidos é eficaz nesse sentido.
e um vazio na alma.
ela está preenchida com o que já não existe.
e o meu corpo? como fica?
esse problema não é meu.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

conversas possíveis para um absurdo fim V

adoro fazer poesia com você.
adoro fazer amor com você.
(pausa)
você ainda enrubesce.
adoro fazer o que a gente faz.
adoro tudo o que já fizemos.
esses são os últimos laços se desfazendo.
reparou que já não nos encontramos por acaso?
e que quando ligo você esqueceu o telefone?
então é hora de nos despedirmos.
não vamos mesmo? nunca mais?
nosso amor pairava acima do real.


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

conversas possíveis para um absurdo fim VI

preciso urgentemente tirar o seu corpo do meu. tirar essa fruta esse fruto que nasce que brota no rasgo do ventre. no útero. preciso abortar.
abortar esse amor. é preciso. libertar esse corpo. é preciso. recriar a metade que fica.



essa conversa mais parece um monólogo.
ou uma sentença final.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

a matemática do amor

a matemática do amor é matéria complexa. soma-se. sub.trai-se. logra-se o ritmo.
nessa matemática é preciso considerar os fatores.
corpo. mente. coração. mesmo que a ordem não altere o produto.
porque na matemática do amor somos andróginos de nós mesmos.
amor gostoso é quando ao querer do corpo se junta a vontade do coração.
ah, nessa matemática a soma vira multiplicações infinitas...
os quereres.
mas isso não é a operação completa.
na redonda laranjice de nós mesmos, fazemos uma máginática e transformamos três metades (é preciso considerar a mente) numa plenitude plena solitária não bastante em si mesma.
essa completude tem objeto. o desejo de corpo e alma tem mira.
na suprema redondice de nós mesmos almejamos uma redondice de estranhas moléculas querendo-se líquidas aguar no outro.
a matemática se complica. agora são muito os nossos fatores. é possível liquefazê-los?
é possível lique-fazer-nos?

terça-feira, 5 de outubro de 2010

nove meses

nove meses. corte. precisão cirúrgica.
alguém deveria nascer. ou morrer hoje.

(eu devia ter dito algo)

morrer.
em um mundo de linhas de atravessamento temporal uma escolha é sempre a morte de uma outra vida possível. ou de um amor impossível.

(algo. uma escritaimpossível)

esse poderia ser um manifesto pelo amor possível.

(mas o amor possível não precisa de manifesto. somente daquilo que em corpo já está manifesto. afinal, amor, como conhecimento, é um problema de fazer.)

em um mundo de atravessamentos toda morte é morte do impossível.

(eu disse lá atrás que alguém deveria nascer ou morrer hoje. e eu deveria ter dito algo.
ao dizer isso, quase disse alguém novamente. alguém deveria morrer. mas quem? não é possível saber, no entanto estou de luto e choro a minha alma.)

um corte. numa operação de precisão cirúrgica um corte foi feito. algo deveria nascer hoje? algo deveria brotar desse corte, ser parido, gerado numa continuidade da vida possível ou de um amor impossível? (eu disse: algo) ou, como diria minha sábia mãe: amor impossível não existe.

(abissal sabedoria. amor impossível não existe.
amor impossível não está lá.)

pois velemos o morto. amém.