domingo, 21 de dezembro de 2014

testamento de fim de ano.

para meu filho deixo tudo o que tenho, exceto o que dele já é: jeito, pensamento, cara, vontade, inteligência. deixo educação. casa e sonhos não realizados. a gente sonha também pros filhos. deixo esperanças de vida. estas, deixo para trás.
deixo, espero, a lembrança de (bons) dias vividos. de pequenos momentos, das trocas diárias. do colo e do amor muito que senti. deixo todo o meu amor de mãe. (um pouquinho dele deixo pro meu sobrinho amado). 
te deixo, filho, meu amor pela vida. 
para meu filho deixo tudo o que tenho, exceto o que já é de outros. o amor dos amigos. os momentos de desejo. de luta. os frutos do trabalho compartilhado. 
para minha irmã deixo minha admiração eterna. e uma parte grande do meu amor que, engraçado, quanto mais distribuo, mais cresce. 
uma parte desse amor deixo pro meu sobrinho e afilhado querido. deixo, como disse, afeto de mãe.
para ravi-ssant deixo minha muita gratidão. por ter me ensinado que o amor pode mais. e o que pode o amor. por ter me ensinado tanto e tão bem. com intensidade e admiração. com tesão e respeito. com calma, luz e beleza. 
para ella, menina morena, a intensidade da descoberta. pra você, que me mostrou um mundo novo, meu eterno tesão. meu gozo sem fim. minha língua. meus dentes. 
para dijon, deixo meus vinis. deixo a música que me ensinou. o toque na pele. o balanço dos quadris.
para meus companheiros deixo a transgressão sempre viva. a diversão e a comida. a festa e a política. o erótico. para a leoa, em especial, parceria, fé e arte.
para outros, deixo o olho no olho. o riso. a palavra dura e a pele macia.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

coisas que me dão prazer.

línguas me dão prazer.
por favor... sí. un poquito más. así, así...
ah, sim, línguas dão prazer.
ah, mon amour, doucement... doucement, mon chérie
a palavra.
a palavra me dá prazer.
le mot.
le mot chão.
le mot móvel.
la parola. pois "eu só tenho a palavra".
palavra prazer.
palavra paladar.
palavra pele. suor. boca.
a palavra língua.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

coisas que sei fazer

sei rir muito. e dançar. sei gostar de música. de todo tipo. sei gostar de música quase sem preconceito. sei ser curiosa. sei ser sagaz. sei ser boba demais. sei limpar. lavar. passar. cozinhar. e sei desaprender a vontade de fazer tudo isso. sei desaprender sem culpa. sei sentir culpa. sei fazer yakisoba do bom. mas só pros amigos. quase não sei fazer pra namorado. depende muito. depende. sei gostar de café. e de boa comida. sei comer e elogiar. sei pedir pra fazer mais. sei ser conquistada por uma boa comida. sei fazer sexo. sei gostar de fazer sexo. sei pedir pra fazer mais. sei morder. lamber. sei chupar um homem. e uma mulher. sei ter vontade. sei fazer vontade. sei amar. mas raramente. já soube me casar, mas me esqueci. sei ter só um filho. sei ter filho amado. sei ser brava. sei ser dura. sei guardar mágoa e sei ser de lua. sei me apaixonar sempre. mas não sem medo. sei ser tímida. e espalhafatosa. sei entrar em pânico. sei entrar em risco. sei escrever texto na rua. sei ação. sei fazer sem autorização. sei ter problema com autoridade. sei gostar de pessoa. sei gostar de coisa também. até mais do que eu gostaria. sei falar muito. mais do que devia. sei ser excessivamente franca. sei ser indelicada. sei ser cruel. mas não gostar disso. sei gostar de ser debochada. sei gostar sem pudor. sei gostar de ser sem pudor. 
ah, sei gostar disso.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

nua.

ela havia prometido
instigar imaginações.
andaria nua pela casa quarto cozinha
sexo na cama. mesa.
chão. chuveiro.
o olho via curva. seio branco. tatuagem vermelha.
carne. bunda. coxa.
entremeio.
mete, ela disse.
a mão anca. espanca de leve. de leve meneia.
agita.
um mar. verão.
lua cheia.
mas o olho só vê que ela passeia
completamente nua.
completamente não.
ela calça chinela de dedo.

pele

a pele sua. cheira.
a pele gruda. anseia.
a pele nua.
a pele preta.
a pele branca pede.
pede língua.
boca. saliva. 
a pele inteira.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

primavera

pele peito pulsa
espera
espera.
espera
pousar na pele preta a língua.
primavera.

domingo, 19 de outubro de 2014

or-ação

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amem

amém

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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

hai kai II

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eu falo vagina
tu falo vagino
ela vagina fala
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sábado, 27 de setembro de 2014

espaço do silêncio III

Todos os dias, nas ruas da cidade, mulheres são construídas.
Mulher princesa. Mulher boneca. Mulher rosa. Doce. Dócil. Mulher muda. Mulher pra usar. Mulher pra casar. Mulher de cama e mesa. Mulher sobremesa. Mulher melancia, jaca, melão. Mulher Filé: "Chega de fruta. Homem gosta é de comer carne". Mulher da vida. Meretriz. Mulher da rua. Meretriz. Mulher da zona. Meretriz. Mulher à toa. Meretriz. Mulher da comédia. Meretriz. Mulher. Meretriz. Mulher. Desculpe o transtorno, estamos trabalhando para você. 
Mulher, uma obra em construção: Sorriso. Batom Boca Beijo. Hidratante. Sutiã. Escova Progressiva Inteligente. Cabelo Longo. Depilação a laser. Lisinha. Cheirosa. 100% completa. Pronta para consumo imediato. Peito. Bunda. Coxa. A cada ano são feitas 629 mil plásticas no Brasil. Silicone. Drenagem linfática. Jet bronze. Botox. Endermologia com Arte. Lipo-Aspiração mata. Diet. Light. In. Out. Gorda. Feia. Jogada fora. Pros cachorros. Na lagoa. No lixo.
A gente pensa que é mulher e é só fêmea, bichinho de estimação. Princesa. Gatinha. Filé. Gostosa. Cachorra. Galinha. Vaca. Piranha. Engulo tudo sem frescura. Amar. Agradar. Aceitar. Transar. Mesmo sem vontade. Sujeitar. Sorrir. Servir bem para servir sempre. Amar. Apanhar. Compreender. Perdoar. Esquecer. Esquecer. Esquecer. Morrer. Mesmo sem vontade.
Desculpe o transtorno, estamos trabalhando para você.
Todos os dias. Todos os dias, mulheres são destruídas.
A cada 2 segundos, uma boneca Barbie é vendida em alguma parte do mundo. A cada 12 segundos, uma mulher de verdade é violentada. Sthefany, 18 aninhos. Loirinha e sapeca como você gosta. Adoro beijar. Mesmo sem vontade. Sarada. Turbinada. Siliconada. Preparada. Como você gosta. Drogada. Bêbada. Abusada. Estuprada. Envergonhada. Excomungada. Culpada. Culpada. Culpada.
Como você gosta?

Ela tava pedindo. Ela tava merecendo.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

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eu aborto.
tu abortas.
somos todas clandestinas.
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terça-feira, 23 de setembro de 2014

feito tatuagem

como na música, eu queria ficar no teu corpo feito tatuagem, feito cicatriz marcar.
visível.
como posso ter dentro de mim este turbilhão este transtorno transbordamento transformação sem estampa na minha pele?
na verdade, acho que o que eu queria mesmo é que você estivesse no meu corpo feito tatuagem.
porque não é possível uma vida te alterar assim e isso não deixar traço. rastro. marca. cicatriz.
a gente devia ser igual parede de prisão em que se marca os dias.
ou calendário. com os feriados mais importantes sublinhados em vermelho.
eu queria mesmo é que minha pele guardasse a marca de seus dedos.
a trilha de seus lábios língua: cada gozo marcado na pele.
eu queria mesmo que em minha pele estivesse escrito: agora sou outra.
que seu gosto marcasse minha língua como ferro em brasa.
que suas curvas marcassem minhas mãos. aquela planície na qual suavemente pousa a curva de sua bunda.
queria a marca de suas coxas em meus dentes.

domingo, 24 de agosto de 2014





esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.esquecer.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Espaço do silêncio II - ELLA(s): a escrita

Todos os dias, nas ruas da cidade, mulheres são construídas.
Mulher princesa. Mulher boneca. mulher dócil muda. mulher rosa. mulher doce. Mulher sobremesa. Mulher de cama e mesa. Mulher para desfrute. Mulher melancia, jaca, melão. Mulher Filé: "Chega de fruta. Homem gosta é de comer carne". Mulher da vida. Meretriz. Mulher à toa. Meretriz. Mulher da rua. Meretriz. Mulher da zona. Meretriz. Mulher. Meretriz. Mulher. Meretriz. Mulher: uma obra em construção.
Desculpe o transtorno, estamos trabalhando para você. Sorriso. Boca Beijo Batom. Depiladores hidratantes sutiãs rolinhos pregadores talheres gleidy sache vassoura escova progressiva inteligente. A cada ano, no Brasil, são feitas 629 mil plásticas. Silicone. Lipo-Aspiração mata. Peito. Bunda. Coxa. Como você gosta. Drenagem linfática. Jet bronze. Botox. Diet. Light. In. Out. A gente pensa que é mulher e é só fêmea, bichinho de estimação. Gatinha. Cachorra, cadela. Vaca, galinha, piranha. Filé. Gostosa. Quente. Pronta para consumo imediato. 100% completa. Mulher. Ser humano do sexo feminino capaz de conceber e gerar outro ser humano e que se distingue do homem por essa característica. Mulher, parcela da humanidade. A mulher em relação ao marido. Esposa. Amar. Casar. Cuidar. Lavar. Passar. Sujeitar. Agradar. Transar. Mesmo sem vontade. Sorrir. Servir bem para servir sempre. Amar. Parir. Padecer. Amar. Sacrificar. Mãe Amar. Amamentar. Limpar. Jogar fora. No rio, na lagoa. Apanhar. Compreender. Perdoar. Esquecer. Esquecer. Esquecer. Apanhar. Apanhar. Morrer. Mesmo sem vontade.
Desculpe o transtorno, estamos trabalhando para você.
Todos os dias. Todos os dias, mulheres são construídas.
A cada 2 segundos, uma boneca Barbie é vendida em alguma parte do mundo. A cada 15 segundos, uma mulher é espancada no Brasil. Samy, 18 aninhos. Loirinha e sapeca como você gosta. Adoro beijar. Mesmo sem vontade. Sarada. Turbinada. Siliconada. Preparada. Espancada. Excomungada. Esquartejada. Jogada pros cachorros. na rodovia. na lagoa. na lixeira. Morta. Como você gosta. Destruir. Matar. Aniquilar. Dar cabo de.
Ex-terminar. Todos os dias, nas ruas da cidade, mulheres são destruídas. 70% das mulheres mortas no país são vítimas de seus namorados, noivos, maridos. Eliza, 24 anos, esquartejada e jogada para os cachorros a mando do ex-amante e pai de seu filho. Leonice, 40 anos, 13 facadas, ex-companheiro. Maria Islaine, 31 anos, ex-marido. Ele apontou a arma para ela e atirou 7 vezes, sem que ela reagisse. Maria de Jesus, 28 anos, 3 tiros, ex-marido. Luciene, 24 anos, 2 tiros, ex-namorado. Polyana, 23 anos, 18 facadas, ex-marido. Eloá, 15 anos, ex-namorado: morta com 1 tiro na cabeça, sem que ninguém reagisse. Janine, 16 anos, grávida de 8 meses, morta pelo namorado com pelo menos 42 facadas, sem que ela eu você. sem que ninguém reagisse.

espaço do silêncio II - ELLA(s): impressões


espaço do silêncio > praça 7
fluxo vertiginoso de pessoas.
estendo o lençol cravado de cruzes vermelhas. isso chama atenção.
a cruz vermelha em minha boca impõe um silêncio sem explicação.
um inventário de mulheres mortas. destruir. aniquilar. dar cabo de. ex-terminar.
um rapaz lê.
uma mulher lê.
sua comoção co-move-me.
e nos encontramos lá. nessa comoção além das palavras (das muitas palavras impressas no papel).
quero me juntar a você, ela diz. não agora.
ofereço minha escrita. meu telefone. meu nome. ela vai me procurar. ela vai me procurar?
espaço do silêncio > praça da estação
bancos. jardins. estátuas. (rastros da ação de outro dia: dançar é uma revolução)
aqui tudo tem forma e sentido.
pessoas atravessam os quadrados.
as palavras rastros soltas pelo espaço compõem um quadro com meu corpo. o seu antônio diz:
bonito isso que você faz. te vi aqui dançando outro dia. um pano branco. era bonito.
eu agradeço e cerro minha boca com a cruz, mas não antes de responder:
essa ação? chamo de espaço do silêncio.
(apesar de achar que, às vezes, o texto no papel fala demais).

quarta-feira, 2 de abril de 2014

muso

o bom do muso
  é ele ser muso
          sem querer
  é ele ser muso
          sem saber

desejo

desejo o dia em que
    nossos corpos nus
                        a sós
fiquem
                 entrelaçados
entre estrelas laçados.
         estrelados.
desejo
         espaço entre coração e pele
                   abismo
                    fenda
                    fundo
entra...          fundo            ... pode entrar.

quinta-feira, 6 de março de 2014

manifesto pessoal

EU, NINA CAETANO, DECLARO QUE, A PARTIR DE HOJE, 
MEU CORPO É SOMENTE M(EU).
EU NÃO PERTENÇO A NINGUÉM.
A NINGUÉM NADA DEVO. NEM OBEDIÊNCIA. NEM SATISFAÇÃO.
EU SOU MINHA.
E NÃO DE QUEM QUISER.

sábado, 1 de março de 2014

déjà vu II



pele língua
sangue
lambe
dentes
crava carne
branca lua

branca gota
lambuza-me 

preto

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

déjà vu

grelo língua
boca seio
pernas pau em meio
gozo goza glosa
mete
esse é só o mote.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

ciranda

pensamento voa
aquece
peito pele estômago
tudo se altera
com ele dentro de mim

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

ménage à trois

ele toca o violão
encanto:
meu corpo vibra.

rapidinha

meu corpo chapa quente
sua língua gota fria
escorre pela pelo pele

sábado, 25 de janeiro de 2014

conto pornográfico

 (uma imitação barata de Hilda Hilst)


         o dia em que nasci. eu tinha 13 anos e era virgem. meu pai, um velho bêbado e babão, resolveu me vender antes que fosse tarde demais. como ele já tinha tirado o cabaço das minhas duas irmãs (e o destino delas tinha sido a prostituição, sem que ele nada lucrasse com isso) ele resolveu me poupar e, dessa vez, levar algum lucro com a minha rara virgindade me vendendo para o maior bordel da cidade.
o dia em que nasci. eu tinha treze anos e meu pai resolvera me vender apesar dos meus peitos mal empinarem a blusa.
quem sabe? meu pai pensou. ela tinha uma pele bonita, macia. as coxinhas grossas, uma bunda redonda, carnuda. A carne tenra... os peitinhos. Os peitinhos... meu pai resolveu dar-me um banho.
éramos pobres e o banho tomávamos em uma bacia de metal. o banheiro era um quadrado de cimento sujo e quebrado, coberto por uma telha de zinco que fazia dali um inferno. meu pai encheu a bacia de água morna, me arrastando até ela. minha blusa, um pouco rasgada, deixava entrever o bico do seio. a respiração do meu pai se acelerou. os olhos tinham um brilho mau. ele puxou minha calcinha, arrancando minha saia avidamente. eu estava imóvel e meu pai, diante do meu corpo nu, ajoelhou-se como diante de uma santa. abriu as minhas pernas e roçou os dedos pelo meu grelo. pediu-me que pegasse a caneca e jogasse água no meu corpo. que a deixasse correr. ele a recolheria ali, no encontro das coxas. comecei a sentir um calor me invadindo. ele lambeu a água, devagar. Esticou a língua e lambeu de novo, abrindo caminho entre os meus pêlos. Meu corpo bambeou e ele agarrou minha bunda, invadindo ainda mais minha vagina como um cachorro sedento, a língua de fora, os olhos saltados a me lamber também. e gemia como uma criança diante do peito da mãe. suas mãos agarravam minha bunda como se fossem duas redondas luas. a língua misturava fogo à água. Sem nem sentir eu empurrava o meu quadril contra seu rosto num movimento instintivo de prazer. Ele acelerou as lambidas mais e mais mais mais mais mais... gozei. Meu corpo bambeou mais uma vez. 
meu pai abriu a calça...



... ainda não entendi que graça tem ficar lendo sobre a vida das outras pessoas! eu, por mim, nunca gostei nem de falar da vida alheia.
sabe, leitor, estive pensando...será que eu não devo começar me apresentando primeiro? Afinal, que graça é que tem... calma, leitor ansioso!
cerre um pouco a cortina. pediram-me para contar a minha vida e é o que vou fazer! mas se você nem souber de quem se trata, que graça tem querer dar uma espiadinha atrás da minha cortina?! credo, que pressa!
... não tema, meu gostoso leitor, tentarei ao máximo não ser “literária” como Sade. pois cá muito entre a gente, ele, pelo menos no que concerne à escrita, era um tanto monótono... já sei, já sei! para um conto pornográfico, eu também já estou sendo bem – com o perdão da palavra antiga – caceteadora...   (desculpe, não resisti ao trocadilho).
Pois então, prepare-se, meu caralheitor!
o passeio será longo, cheio de paisagens inesperadas. sugiro que fique mais à vontade. desabotoe a camisa, tire os sapatos... deixe mesmo a calça entreaberta. como eu disse, as paisagens podem ser inesperadas...

meu pai abriu a calça. foi o primeiro caralho que vi. grosso. grande. e sujo. ele lavou a imensa pica vermelha na bacia e depois se ergueu, me puxando pelo cabelo. fez com que me ajoelhasse. diante dos meus olhos, a cabeça luzia. uma gota brilhava. lambi. meu pai gemeu. lambi de novo, como quem lambe um gostoso sorvete. meu pai de olhos fechados agarrava a minha cabeça. eu chupava, lambia, sorvia. meu pai me chamava de puta gostosa safada piranha enquanto jatos de porra inundavam minha garganta.
e esse foi meu nascimento.
então, ele vestiu-me uma roupa branca e limpa e me levou para o maior bordel da cidade. era uma casa grande e suntuosa, construída em estilo neo clássico (coisa que, evidentemente, eu não sabia naquele momento. A cultura fui adquirir bem mais tarde). colunas cercavam a entrada. a casa era branca como eu.
quando entramos, a primeira coisa que me impressionou foi o forte cheiro de coxas que pairava naquele lugar. e em seguida as luzes. coloridas. difusas. tudo ali era difuso. contra esse fundo, Madame se destacava: era alta, loura e majestosa. o rosto era muito maquiado e ela toda cheirava, o perfume misturado ao creme e ao pó de arroz. as pernas eram longuíssimas sobre o salto incomensurável. apesar disso, Madame não nascera mulher. nascera homem. sim, a cafetina daquele bordel era uma travesti.
quando Madame me viu sorriu. para o meu pai ela fez cara feia, não gostava daquele velho bêbado e sujo na sua casa de fantasia. ela pagou, ele foi embora e me deixou.
nunca mais o vi.
Madame me pegou pela mão e me conduziu escada acima. louro ou moreno?
moreno... eu queria sentir meu primeiro homem bruto dentro de mim. nada de amor. nada de refinamentos. que fosse rico! muito. Madame sorriu novamente e me disse que eu seria a rainha daquele bordel. Depois abriu a porta do quarto dela, fazendo-me entrar em um paraíso cor-de-rosa. Havia duas moças lá dentro, as duas também muito jovens. Uma delas, loirinha e magra, empurrou-me contra o colchão macio... Madame tirou, ela mesma, meu vestido e passou óleo sobre meu corpo, perfumando-me. A moça negra, de ancas largas e peitos estupendos de tão duros, trouxe uma caixa de jóias de fantasia, da qual madame tirou pérolas tão virginais quanto eu. sobre o meu corpo, somente um pano branco.
Madame então abriu minhas pernas e prendeu meus pés aos pés da cama. eu gosto de chupar mulher, sabia? meus peitos imediatamente eriçaram, machucando o tecido. o gostinho ácido das virgens. atou minhas mãos à cabeceira. eu não sentia medo. sentia sua respiração quente invadindo meus pêlos. o cheiro de cabelo de milho...
e esse foi o meu batismo.
quando terminou, Madame me desamarrou depois lavou a boca e retocou o batom. lavou, ela mesma, a minha buceta molhada. Então foi para a sala e escolheu um fazendeiro, um homem acostumado a comprar tudo como se tudo fosse novilhas. Madame vendeu-me cara, afinal eu era produto raro.
o homem era baixo, forte, atarracado. a pele era sebosa, suada. os olhos, miúdos, tinham um brilho maldoso como os olhos de meu pai. vendo-me nua sobre a cama, limpa, linda em meu pano transparente, ele subiu sobre mim e abriu as minhas pernas. pôs o pau curto e grosso dentro da minha vagina apertada, rompendo meu hímen com facilidade. o homem ficou ali, metendo em mim até gozar. apertava meus peitos, babava neles. beliscava um pouco, com certa maldade. e gozava.
resolvi surpreendê-lo.
virei-me de costas, oferecendo-lhe a bunda redonda. ele arregalou os olhos, espantado. então, eu fiquei de quatro, como uma égua, e como uma égua no cio rocei as minhas carnes brancas na sua pica que estourava de tesão. ele sentia a porra invadir cada centímetro do seu pau, enquanto me agarrava pelas ancas. dava uns tapinhas na minha bunda, falava bunda gostosa minha potranca e metia a vara no buraco quente, gostoso, apertado do meu cu. meu rego latejante engolia apertava a cabeçorra vermelha do seu pau. ele gozou.
depois dessa noite, tornou-se meu amante oficial e financiava todos os meus luxos e extravagâncias. e eu as tinha muitas. como uma menina caprichosa, eu não cansava de pedir. gostava de dar festas estrondosas, verdadeiras orgias, para todo o bordel. como uma rainha, eu tomava banhos de champagne e andava nua, sobre um cavalo, pelos jardins do bordel, além de financiar alguns pintores dos quais era musa e amante.
O leitor bem tava gostando, né? Desse linguajar meio século dezoito salvando a dignidade das minhas memórias... é o espírito livresco querendo encarnar outra vez! claro, nada disso é verdade. ou, pelo menos, quase nada. mesmo sendo puta eu gostava mesmo era de ler e essa era uma das poucas extravagâncias que eu tinha. Madame tinha me ensinado o gosto pelos livros e eu os tinha aos montes e de todos os tipos. Eu era uma devoradora e o comprador de novilhas gostava de mim assim, presa ao quarto e em delírio eu inventava orgias, banhos de champagne e vida de princesa. vá lá, eu era a teúda e manteúda do fazendeiro. tinha jóias, dinheiro. mas era uma caipira de treze anos que acabara de entrar para a vida.
o fazendeiro tinha se viciado em comer o meu cu. todos os dias, como um bom padre Sádico, ele vinha ao bordel enfiar a pica nas carnes brancas da minha bunda. às vezes, uma boa chupada me salvava. era outra das minhas especialidades. fazia questão de tirar sua roupa e ia lambendo seu corpo, traçando uma linha de fogo até o pau. caralho em riste. após pesar suas bolas com minha língua, eu enfiava, sem aviso, aquela vara grossa em minha boca entreaberta. a cabeça, descoberta, estava à minha mercê e eu a apertava, suavemente, entre meus lábios. de repente, eu enfiava aquela verga toda na minha boca. a boca, apertada como uma buceta quente, sugava sugava. para em seguida torturar cada centímetro de sua pica latejante com lambidas bem... bem vagarosas... com a desculpa de prepará-lo para a “empreitada”, muitas vezes fiz com que gozasse ali mesmo, na minha boca. uma boa parte das vezes, no entanto, meu cu era agraciado.
como eu era muito nova, Madame não queria me ver “arrombada” e deu um jeito de me arrumar outro cavalheiro. dessa vez ela não pediu minha opinião, resolvera me arrumar um velho pacato e sem extravagâncias. era um banqueiro, um homenzinho magro e sorridente, sempre com um ar de quem pede desculpas. eu tinha uma vontade imensa de maltratá-lo e ele parecia gostar, pois jamais reclamava. 
habitualmente, ele aparecia no fim da tarde e nesse dia resolvi esperá-lo com uma surpresa. o entregador de bebidas do bordel era um jovem negro, impetuoso como um garanhão. quer me comer de graça, sem pagar nada? ele, com o pau endurecido roçando minha bunda, me seguiu até o quarto. sem paciência, rasgou minha roupa. chupava os meus peitos, era voraz, bruto e aquilo me agradava. abri as pernas. o negro afastou minha calcinha de lado e meteu a imensa pica roxa na minha buceta molhadinha. a pele negra contrastava com a brancura das minhas coxas. ele me mordia, chupava, metia. eu gozava gozava gozava sem fim.
ele me virou de costas, lambuzou o pau grosso, cheio de veias, assombroso, assustador, com sua saliva e abriu no meio a minha bunda, branca como uma lua. eu gemi de medo. ele encostou a cabeçorra. a porta se abriu. impaciente com a interrupção, ele olhou para a porta. eu disse: entra. pode entrar...
enquanto o negro entrava no meu cu ardente, o cavalheiro magrinho entrava no quarto, mortalmente pálido.  







O leitor deve admitir: o trocadilho é tão perfeito que impede a continuidade da obra. Entra, pode entrar... e eis que a porta se fecha bem na minha cara.
O que pode vir depois disso? Hein, meu caralheitor?