domingo, 31 de julho de 2011

Convite para a defesa da tese de doutorado de Nina Caetano

Tenho o prazer de convidá-l@s para a defesa da Tese de Doutorado de Nina Caetano.
ops! Elvina M. Caetano Pereira

Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da USP

TÍTULO: TECIDO DE VOZES: texturas polifônicas na cena contemporânea mineira

ORIENTADOR: Profa. Dra. Sílvia Fernandes Telesi da Silva

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Maria Lúcia Pupo – titular- ECA/USP

Prof. Dr. Antônio Araújo Silva – titular– ECA/USP

Prof. Dr. Fernando Pinheiro Villar – titular - UnB

Profa. Dra. Cecília Almeida Salles – titular - PUC/SP

LOCAL: Sala Egon Schaden (1º andar do prédio principal da ECA/USP).
Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443. Cidade Universitária. Butantã, São Paulo/Sp.

Dia 03 de agosto de 2011 (quarta-feira, dia de iansã), às 14 horas.

domingo, 24 de julho de 2011

sobre como se fabrica uma mulher?

matéria feita por leandro alves, para a tv ufop sobre a oficina como se fabrica uma mulher?
a oficina foi realizada durante o festival de inverno de ouro preto e mariana, de 19 a 22 de julho de 2011, por mim e por lica guimarães.


Mulheres em ação: diálogos obscênicos

artigo publicado no caderno pensar, do estado de minas do dia 16 de julho de 2011.
Confins, 22 de junho de 2011: 14:00 pm. Dentro de 10 minutos, embarcamos para Curitiba, onde iniciaremos nossa participação no Festival do Teatro Brasileiro – Cena Mineira. Integramos o Obscena agrupamento independente de pesquisa cênica e somos eu, Nina Caetano, escritora performer, e as atrizes Erica Vilhena, Joyce Malta e Lissandra Guimarães.
Quando iniciamos, em 2008, a pesquisa que culminou na intervenção urbana Baby Dolls, uma exposição de bonecas, não imaginávamos o fôlego que o trabalho teria, nem os desdobramentos que alcançaria. Éramos quatro pesquisadoras que, desejosas de colocar suas questões como artistas, queriam também colocá-las como mulheres. Em uma sociedade como a nossa, em que se multiplicam mulheres comida (mulher melancia, mulher jaca, mulher filé), em que as mulheres, como propriedades e objetos, são cada vez mais mortas, excomungadas e transformadas em bens de consumo, nosso desejo era produzir uma ação que pudesse desorganizar os estereótipos que se reproduzem em torno da imagem da mulher e da noção de feminino.
Baby Dolls é uma ação performática que tem como eixo de discussão a fabricação da mulher padrão, por meio da composição e transformação de três “bonecas” que transitam entre papéis sociais femininos ainda dominantes na sociedade contemporânea: a mãe, a prostituta, a noiva, a loira, a rainha do lar. Interrompendo o fluxo cotidiano do espaço urbano, essas bonecas terão, posteriormente, seus corpos mortos marcados a giz no chão e prenchidos com escritas.
Fizemos Baby Dolls nas ruas de Belo Horizonte e, posteriormente, em festivais pelo país. Em Recife, havíamos, pela primeira vez, ministrado uma oficina exclusivamente para mulheres e, agora, pelo Festival do Teatro Brasileiro – Cena Mineira, teríamos a oportunidade de levar o trabalho para as terras do sul, intervindo nos espaços urbanos de Curitiba e Porto Alegre e, ao mesmo tempo, ministrando oficinas em presídios femininos. Isso nos permitiria aprofundar outro aspecto da pesquisa que vínhamos desenvolvendo, pois, concomitante às intervenções urbanas que realizávamos desde 2008, a investigação temática do Obscena nos conduzira às mulheres marginalizadas, em especial aquelas em privação de liberdade.
Percebendo as instituições prisionais para mulheres como locais de potencialização das questões do feminino em relação à sociedade patriarcal e capitalista, o agrupamento realizou, de agosto a dezembro de 2009, um projeto com as adolescentes em privação de liberdade do Centro de Reeducação Social São Jerônimo. A partir dessa experiência, foi proposta ao FTB – juntamente com Baby Dolls – a oficina Diálogos Obscênicos, na qual visávamos a construção de um espaço relacional com 20 mulheres de instituições prisionais, em cada estado: um espaço para o afeto, para o toque, para a recuperação de identidades e auto-estima.
Em Curitiba trabalhamos com o CRAF – Centro de Regime Semi-Aberto Feminino, no qual tivemos, por parte das mulheres, uma acolhida surpreendentemente calorosa. Durante quatro dias, buscamos trocar experiências sensoriais, físicas, afetivas e proporcionar a nós e a essas mulheres – que, em sua grande maioria, foram presas a partir do envolvimento de seus companheiros com o tráfico de drogas e alijadas de suas famílias e do contato com seus filhos – a possibilidade de repensar nosso lugar social como mulheres e de exercitar nossa voz por meio da criação de um corpo cênico. Para isso, ao longo da oficina propúnhamos também, a partir de materiais diversos – de revistas e jornais a roupas, meias e maquiagem, de canetas e papéis a gravadores e câmeras – a construção de “objetos” ou de elementos expressivos e simbólicos que pudessem compor esse corpo cênico que atuaria, depois, em uma intervenção coletiva. Em Curitiba, acabamos realizando um grande desfile desses corpos-instalações para todas as mulheres do CRAF, ação novamente experimentada em Porto Alegre.
Na capital gaúcha, trabalhamos no presídio Madre Pelletier, em um espaço frio e inóspito, pouco propício às trocas e ao contato. Nesse presídio, de regime fechado e super lotação, em que muitas das mulheres não tinham sequer um cobertor para passar as noites que chegavam a 2 graus, tivemos que contar, mais do que nunca, com nossa potência feminina. Como salienta Erica Vilhena, “é muito difícil ser mulher e estar presa. Mais que o homem, a mulher sofre por estar afastada dos filhos e da família”. Por isso, mais do que abordá-las como atrizes, buscamos, como relatou Mendonça (jornalista que acompanhou nosso trabalho em Porto Alegre) chegar como mulheres que propunham, com doçura, destrinchar seus corpos a partir da redescoberta dos sentidos, há muito embotados pelos anos vividos nas galerias. Nossas “armas” eram massagens, relaxamento, a experimentação de cheiros e sabores comuns para nós, mas raros para quem vive na carência absoluta de tudo: morango, chocolate, leite condensado... Para nós, obscênicas, a experiência em ambas as instituições, foi transformadora.
Quanto às intervenções de rua, foi muito potente a troca que tivemos, principalmente, em Porto Alegre. Nessa cidade de povo aguerrido não passamos incólumes. A ação provocou reações, discursos exaltados, indignações e concordâncias. O chão liso de lajotas da maior parte das calçadas foi, para mim em especial, um presente: como uma lousa, o chão recebia os desenhos dos corpos mortos e a minha escrita amorosamente. 
Confins, 03 de julho de 2011: 22:34 pm. Foram dez dias de um trabalho maravilhoso e intenso. Agora, só quero ir para casa. 
                                                                                                       


Maiores informações sobre o trabalho de pesquisa do agrupamento Obscena em www.obscenica.ning.com e www.obscenica.blogspot.com .