Daqui de cima eu vejo tudo.
a cidade inteira.
luzes. prédios. ruas. carros. pessoas passam.
É uma questão de destino.
Uma arquitetura é feita de planos traçados. de linhas. retas. de vazios. de cheios.
Uma arquitetura é feita de passagens. E de muros.
Uma arquitetura é magnífica. Grande. Dura.
mas por dentro dela.
de mim. (o interior cheio de mulheres)
algo acontece. escorre pelos canos. sobe pelas paredes. pelas coxas. cabelos. bucetas. bucetas.
pelas veias.
o cheiro. (o interior carcomido)
os corpos conformados nos vazios escrevem um texto que não conseguem ler.
Nos corredores. Nas grades, nas celas. No pátio. No cimento.
Na veia.
Dentro dela. de mim. uma mulher espera pegar dureza daquele lugar torto.
Por dentro, estou carcomida. Ela também. Somos cheias de segredos. Eu e ela. a mulher.
O cheiro da urina grudada na pele.
Quanto tempo até o chão? Quanto tempo até seu rosto tocar o chão vermelho?
A carne. Em direção à queda.
Ela grita e ninguém escuta. Ela (eu) está numa cela que faz parte de um andar que faz parte de um pavilhão que faz parte de uma cadeia de prédios que faz parte de um quarteirão que faz parte de um bairro que faz parte de um distrito que faz parte de uma cidade que faz parte de um estado que faz parte de um país... Ela grita. eu grito. e ninguém escuta.
Do alto da torre, o olho passeia. eu invento um altar.
Para um deus possível que lá do alto da torre vê a vida passar.
Na televisão. Na esquina do mundo.
E eu (ela) aqui sentada. nessa cela. nessa sala. nesse tubo de ensaio.
"A gente só devia conhecer o que vive".
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