sexta-feira, 25 de março de 2011

classificação zoológica da mulher

Mulher vaca. Nome científico: femina docilis.

foto: nina caetano

Seu habitat natural é o lar, o ambiente doméstico. Adora passar, limpar, cozinhar e cuidar, mesmo sem vontade.O temperamento dócil das mulheres vacas associado à sua indiscutível utilidade econômica, fez da domesticação da espécie a mais antiga da história da civilização. Estima-se que já eram domesticadas pelos homens das cavernas.

Além da força de trabalho, esse animal é extremamente útil porque dele se aproveita tudo: você pode comer a carne e até arrancar o couro que a mulher vaca não reclama. Além disso, ela tem como qualidade a capacidade de tudo suportar, sem frescura. Carga, peso, culpa.

Cuidado! Não alimente com idéias, pode ser perigoso.



Mulher cachorra. Nome científico: femina vulgaris.

foto: nina caetano


Seu habitat natural é a rua, o bar, o baile funk. Normalmente tem hábito noturno, mas há espécies que funcionam dia e noite.

É um animal extremamente sociável, aceitando seu dono como chefe da matilha. Aliás, essa espécie precisa de dono para se sentir feliz.

Bastante utilizada como bichinho de estimação e enfeite de namorado, a mulher cachorra aceita bem a coleira, que usa como se fosse um colar de diamantes.

A mulher cachorra é relativamente dócil e leal. Se bem adestrada, ela lambe e até balança o rabinho. Mesmo sem vontade.

Para o adestramento, pode ser necessário o uso de tapinhas. Mas não se preocupe porque, para a verdadeira mulher cachorra, um tapinha não dói.

Cuidado! Não alimente com idéias, pode ser perigoso.

sábado, 19 de março de 2011

só muda de endereço



Coleção escritas performadas: só muda de endereço
(por nina caetano)
Todos os dias, nas ruas da cidade, mulheres são construídas. Mulher princesa. Mulher boneca. mulher dócil muda. mulher rosa. mulher doce. Mulher sobremesa. Mulher de cama e mesa. Mulher para desfrute. Mulher melancia, jaca, melão. Mulher Filé: "Chega de fruta. Homem gosta é de comer carne".
Todos os dias, nas ruas da cidade, mulheres são construídas. Sorriso. Batom Boca Beijo. Faca Tiro. Todos os dias, nas ruas da cidade, mulheres são destruídas. 70% das mulheres mortas no país são vítimas de seus namorados, noivos, maridos. Amar. Casar. Cuidar. Compreender. Perdoar. Esquecer. Esquecer. Esquecer. Transar. Mesmo sem vontade. Morrer.
Mesmo sem vontade.
Mulher, uma obra em construção. Desculpe o transtorno, estamos trabalhando para você. Depiladores hidratantes sutiãs rolinhos pregadores talheres gleidy sache vassoura escova progressiva inteligente. Servir bem para servir sempre. Mulher. Ser humano do sexo feminino capaz de conceber e gerar outro ser humano e que se distingue do homem por essa característica. Mãe. A mulher em relação ao marido. Esposa. Plano de saúde, férias, filhos. Feia. Gorda. Jogada fora. Mulher, parcela da humanidade.
Mulher da vida. Meretriz. Mulher à toa. Meretriz. Mulher da rua. Meretriz. Mulher da zona. Meretriz. Mulher da comédia. Meretriz. Mulher. Meretriz.
Engulo tudo sem frescura.
A gente pensa que é mulher e é só fêmea, bichinho de estimação. Gatinha. Cachorra, cadela. Vaca, galinha, piranha. Filé. Gostosa. Quente. Pronta para consumo imediato. 100% completa. Samy, 18 aninhos. Loirinha e sapeca como você gosta. Adoro beijar. Mesmo sem vontade.
A cada 2 segundos, uma boneca Barbie é vendida em alguma parte do mundo. A cada 15 segundos, uma mulher é espancada no Brasil. Como você gosta. A cada ano, No Brasil, são feitas 629 mil plásticas. Silicone. Lipoaspiração. Peito. Bunda. Coxa. Como você gosta. Drenagem linfática. Jet bronze. Botox. Diet. Light. In. Out. Enterrada menina de 14 anos encontrada morta e estuprada. Arregaçada. Como você gosta.
Engulo tudo, sem frescura.
Sarada. Turbinada. Siliconada. Preparada. Espancada. Excomungada. Esquartejada. Jogada pros cachorros. na rodovia. na lagoa. na lixeira. Morta. Como você gosta.
Destruir. Matar. Aniquilar. Dar cabo de. Ex-terminar.
Eliza, 24 anos, esquartejada e jogada para os cachorros a mando do ex-amante e pai de seu filho. Leonice, 40 anos, 13 facadas, ex-companheiro. Maria Islaine, 31 anos, ex-marido. Ele apontou a arma para ela e atirou 7 vezes, sem que ela reagisse. Maria de Jesus, 28 anos, 3 tiros, ex-marido. Luciene, 24 anos, 2 tiros, ex-namorado. Polyana, 23 anos, 18 facadas, ex-marido. Eloá, 15 anos, ex-namorado: morta com 1 tiro na cabeça, sem que ninguém reagisse. Janine, 16 anos, grávida de 8 meses, morta pelo namorado com pelo menos 42 facadas, sem que ela eu você. sem que ninguém reagisse.
Amar. Sacrificar. Padecer. Parir. Amar. Amamentar. Cuidar. Limpar. Amar. Jogar fora. É tudo igual, só muda de endereço.

sábado, 12 de março de 2011

a mãe é culpada de tudo: elaine césar

essa história está acontecendo agora, nesse país. e o impacto enorme muito que me causa é porque o caso de elaine césar é emblemático de um posicionamento atávico que vejo em notícias de jornal diárias, em comentários cotidianos. resumo em: a culpa é da mulher. talvez, até mais especificamente, a culpa é da mãe. porque ama demais. porque não dá amor. porque não educa direito. porque separou. porque não pensa nos filhos. porque casou de novo. porque fica junto desse aí. porque trabalha fora. porque é egoísta. porque não trabalha e depende do marido. e cada expressão desse pensamento é apontado como um julgamento, como uma sentença: a mãe não é capaz de criar o filho que carregou 9 meses no ventre, alimentando-o de sua carne e sangue.
fiquem com elaine. acompanhem sua história e sigam seu blog (idéia, bem como o guest post de elaine, copiada do blog solteiras e descoladas).
tomem atitudes, cada uma: divulguem, criem cartas de repúdio, mobilizem outras pessoas.



Meu nome é Elaine Cesar.
42 anos.
Decidi escrever como uma forma de expor uma realidade que estou vivendo e sei que várias mulheres e homens estão passando o mesmo nesse momento.

Esse momento acabou me levando no desejo de produzir um documentário_filme sobre um dos temas que estou vivendo: Alienação Parental.
É aqui nesse espaço que vou, livremente, fazer meu caderno de produção e estender meu diário a essas paginas.
Não quero que esse blog se torne um espaço para defesa, e sim um espaço onde se possa também trocar experiências com pessoas que já viveram ou vivem situações ligadas a alienação parental, falsas acusações de abuso sexual e implantação de falsas memórias, um crime muito comum que a sociedade e parte da justiça não estão preparados para enfrentar.

Hoje vivo uma gravidez de risco de 5 meses.

Hoje vivo um Câncer Linfoma Não-Hodkin das Células T num estágio avançado.

Hoje vivo uma separação litigiosa onde fui acusada falsamente de ter abusado sexualmente de meu filho de 3 anos de idade.
Fui acusada de ser viciada em drogas, portanto incapacitada de criar uma criança.
Hoje vivo um processo na justiça, também parte dessa separação onde um desembargador decidiu que por trabalhar num teatro como Oficina não sou capacitada de criar um filho.
Hoje só posso ver meu filho a cada 15 dias, sem poder pernoitar e com visitas vigiadas.
Hoje vivo a maior esperança que tudo isso é só uma passagem.
Vivo um grande amor.
Vivo uma grande luta que esta sendo um sucesso contra esse câncer e a certeza que logo Théo estará de volta nos meus braços junto com Rudá, esse bebezinho que segue guerreiro dentro de mim, nos alimentando nessa grande batalha que é a vida.

Desde que recebi de um Oficial de justiça um documento com acusação de PEDOFILIA, meu corpo murchou. Naquele dia, era uma quinta feira em dezembro, perdi todas as minhas forças, pela segunda vez estavam me roubando meu filho. Um papel cheio de inverdades com tantas acusações falsas.
Ali, eu morri. Poucos dias depois soube do câncer.
Achei que tudo aquilo era um grande engano, ainda mais vendo que a acusação estava vindo da pessoa com quem dividi alguns anos da minha vida, que morou comigo por esse tempo e que juntos fizemos nosso maior tesouro, o menino Théo.
A acusação foi feita pelo pai do meu filho; Rafael Gonçalves e aceita pelo tribunal de justiça que segue um código antigo que “protege” a criança de pais pedófilos, imediatamente dando a guarda para o “autor do processo”.

Até hoje não fui chamada para depor, até hoje nenhum assistente social ou psicólogo vieram conhecer minha casa, até hoje ninguém relacionado a vida de Théo, escola, amiguinhos, vizinhos foram contatados.

Toda acusação foi aceita em cima do discurso e um ex-marido que não aceita nossa nova condição. E que desde então não aceita falar e nem olhar pra mim, nem sequer pra falar de nosso filho.
Até hoje acredito que foi só um pesadelo, mas não foi.
É realidade e uma realidade de que não faço parte sozinha.
É um ato desesperado feito por pessoas fracas que não tem forças de assumir a realidade nova, que vestidos de uma fantasia paternal usam seus filhos como armas e não percebem que tudo isso ataca diretamente a personalidade de uma criança que na verdade só que ser amada e respeitada.
Hoje, estou mais forte em tratamento e focada nessa luta de ter meu filho de volta e para isso tenho que estar mais viva que nunca.

Blog da Elaine: http://elainecesar.blogspot.com/

quarta-feira, 9 de março de 2011

Saia de bruxa hoje (Maíra Kubík Mano)

Do blog: http://viva.mulher.blog.uol.com.br/


Não, nada de sair por aí fantasiada de princesa, noiva ou prostituta. E nem pense em aparecer de cigana ou palhaça! Se eu te encontrar de odalisca, juro que viro a cara.

A idéia é a seguinte: pegue um chapéu preto ou roxo bem alto. Uma capa vai bem também
– pode ser das mesmas cores, para ficar combinando. E uma vassoura, sempre tem que ter uma vassoura. Se quiser, ponha um nariz comprido e disforme, afinal, nossas homenageadas eram feias de dar dó pelo menos segundo os desenhos animados da Disney. Um toque especial. Ah, e desenhe uma verruga, fundamental!

Saia, enfim, de bruxa! Por quê? Porque hoje é 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, e essas libertárias ousadas foram um pedaço da nossa história rumo a uma sociedade mais igualitária. Queimadas nas fogueiras da Inquisição sem piedade simplesmente porque estudavam a natureza e exerciam a medicina alternativa, elas entraram para os anais como forças maléficas. Óbvio: eram um símbolo do poder da mulher e isso não poderia ser tolerado.

Mas agora sim. Dê gargalhadas sinistras por aí. Você pode. E deve!


8 de março e carnaval...

DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Feminismo depois do carnaval
Por Ligia Martins de Almeida em 8/3/2011

Desfilar seminua, rebolar com gestos eróticos, tentar se impor apenas pela sexualidade é uma conquista feminina ou o máximo da submissão? Esse seria um bom tema para discutir nesse no Dia Internacional da Mulher, comemorado no dia 8 de março, que neste ano caiu na terça-feira de Carnaval. Em meio às fotos dos desfiles e o destaque para as mulheres mais bonitas, mais famosas ou menos vestidas, os jornais reservaram espaço para discutir nada mais nada menos do que feminismo.
O caderno "Feminino" do diário O Estado de S.Paulo dedicou duas páginas ao tema ("Feminismo, ontem e hoje") e começa afirmando:
"O movimento, que muitos pensam fazer parte do passado, segue atuante e tem atraído novas gerações de militantes. Para especialistas, a luta pela igualdade de direitos continua – mas os desafios são outros."A antropóloga e socióloga Lia Zanotta Machado, autora do livro Feminismo em Movimento, é quem fala dos novos desafios, entre os quais destaca o aborto:
"Existe um pensamento em comum, nas classes média e baixa, de que quando se trata de uma pessoa próxima e cujas razões são conhecidas, o aborto é aceito. Mas é preciso pensar nas demais mulheres que, por circunstâncias afetivas, sociais e econômicas, não podem levar a gestação adiante".O segundo desafio a ser vencido, diz a antropóloga, é a participação das mulheres na política:
"Segundo a organização internacional União Interparlamentar, num ranking de 180 nações, o Brasil ocupa o 144º lugar em relação à presença feminina nos parlamentos. Nesse âmbito, o fato histórico de termos uma mulher na presidência e mais ministras produz um efeito de desnaturalização do espaço masculino no poder".Acesso a direitosMas o grande desafio mesmo é diminuir a diferença entre as mulheres mais ricas e as mais pobres, diz outra entrevistada do jornal, a psicóloga Nalu Faria, coordenadora geral da Sempreviva Organização Feminista:
"O acesso aos direitos não chega a todas as camadas. No Brasil, as mulheres são as mais pobres, em particular as negras e rurais. Temos só 52 mulheres em cada 100 que estão no trabalho assalariado." A luta da Marcha Mundial das Mulheres, que ela integra, é por "um salário mínimo mais digno, que impacte de forma positiva a vida dessas mulheres".
Junto como o salário digno, vem a luta contra a violência doméstica, ainda um problema grave: a cada 15 segundos, uma mulher é vítima de agressão no Brasil. Embora a Lei Maria da Penha tenha tornado o tema mais público, é importante trabalhar no âmbito da prevenção.
"A violência, fruto da relação de poder, não acontece de uma hora para outra. Começa com o controle, o isolamento e a desqualificação da mulher, que se sente fragilizada, com baixa autoestima e economicamente dependente."Tomara que após o Carnaval – que, como diz o antropólogo Roberto da Matta, "é o rito que libera, deseja, solta" – e com a volta da presidente Dilma Rousseff de seu retiro com a família numa área restrita e protegida de câmeras fotográficas, os jornais abram espaço, a partir do Dia Internacional da Mulher, para discutir o feminismo, suas conquistas e, o mais importante, o que ainda falta para fazer para que todas as mulheres tenham pleno acesso aos direitos que lhe são garantidos.