sexta-feira, 26 de abril de 2013

Espaço do Silêncio: manifesto.



 Foto: Roque Soares

Ação. Açã: palavra tupi guarani que significa Um grito, um protesto.
Quero cantar a antropofagia do índio – só a antropofagia nos une! – que honra seu inimigo deglutindo sua carne e absorvendo sua força cultura alma numa interpenetração materializada na alegria dos corpos. Somos todos Guarani Kaiowá!
Quero cantar a bravura dos mais de 600 índios a ocupar o Plenário da Casa do Povo. Casa do Povo: É Mentira muitas vezes repetida! Fora, invasores! A Assembléia Legislativa não nos representa! Somos todos Tupiniquim Tupi Guajajara Guarani Kaiowá Kaiapó Maxakali Munduruku Jê Pataxó Bororó Tukano Kariri Karajá Kaingang Nambikwara Kamayurá Maku Sateré Mawé Ñandeva Yanomámi Matis Aikewara Kadiwéu WaiWai Uru-Eu-Wau-Wau Xavante Xokren Xikrin Iawalapiti Txikão Txu-Karramãe Zuruahã Ramkokamenkrá Suyá... e tantos outros! 240 povos, 183 línguas, 513 anos de genocídio.
Antes do português descobrir o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.
Não vou cantar aqui (queria, antes, calar!) a devoração das máquinas rodas de Hilux dilacerando os corpos de meninos índios.
Queria calar as máquinas que em mãos de fazendeiros ou delegados federais cospem balas a atravessar a cabeça de adolescente guarani kaiowá ou chefe munduruku.
Calar as máquinas corpos machos no comando que estupram índias Marlene em gesto mil vezes repetido desde que o português pisou em Pindorama. Ah, fosse dia de sol, teria o índio despido de todo preconceito o português ao invés deste cobri-lo de vergonha, religião e morte?
Quero juntar minha voz à voz dos povos indígenas que clamam por justiça! Açã!
Nota: atualmente, cerca de 50 homens, 50 mulheres e 70 crianças, índios Guarani Kaiowá vivem às margens de seu território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay, às margens do rio Hovy e das terras em que deveriam ser suas, em estado de morte anunciada: isolados, sem assistência e cercados de pistoleiros. Os índices de mortalidade infantil são altos, mas mais altos são os números de índios assassinados e de suicídio entre os jovens índios em busca da terra sem males.
Atualmente, 80% dos suicídios cometidos neste país, são cometidos por índios.
Minha alma grita e não pode se calar.
Nina Guarani Kaiowá Caetano
Em Belo Horizonte, Pindorama.
Ano 459 da Deglutição do Bispo Sardinha.

Um comentário:

Clóvis Domingos disse...

Muito belo e forte. Deu vontade de ler em voz alta e gritando. Bjos.