Quero contar uma história banal.
Eu não usava essa palavra até conhecer o Caio. Mas agora ela me
parecia a mais adequada, assim tão precisa. Resolvi começar pelo fim.
Resolvera cortar o único laço de comunicação que tinham: o
facebook.
Que estranho, usei a palavra laço. Agora preciso pensar. Agora
preciso saber. Por que essa palavra. O que queria dizer com aquilo. Cortara o
laço? Não. Não cortara. Voltemos ao facebook.
Resolvera cortar o único meio de comunicação entre eles: o
facebook.
Antes, nunca tinha visto aquele moço mais gordo. E agora ele era
alguém que ela mal conhecia. No entanto...
Uma vez tinha dito isso a ele: eu mal te conheço. Naquele dia
estava com raiva. Em outro, tinha dito: eu só quero te encontrar na minha casa,
na minha cama. Naquele dia estava em pânico.
Ela já tinha tido vários ataques de pânico. O primeiro ocorrera em
uma vez – a primeira vez – que tinha marcado com ele em público. Em um bar.
Lembrava-se da onda de pânico invadindo seu corpo. O coração batia
desesperadamente, a ponto dela enjoar. E ela quis fugir, dar meia volta e ir
embora. Mas respirou fundo, deu duas voltas no quarteirão e dirigiu-se ao bar.
Agora pensava: devia mesmo ter ido embora naquele dia. Mas é que virara uma boa
moça e não dava mais bolo nos rapazes.
(às vezes sentia saudade de quando não se importava nem um pouco
em ser gentil).
Mas é que, ao mesmo tempo, ele viera em um momento de ânsia. De
anseio pelo novo. Em que ela andava interessada em experimentar fantasias. Em
fazer coisas que nunca tinha feito antes.
Seria esse o cara que a levaria a uma casa de swing e faria uma
troca de casais, fingindo ser seu marido? Seria com ele que ela finalmente
faria um ménage à trois com homens e mulheres e bocas e mãos por seu corpo?
Seria com ele que experimentaria ser homem consolo a penetrá-lo?
Claro, ela tinha ido com muita sede ao pote. Tinha sido exigente.
Pedira demais.
Logo ele começou a broxar.
Começou a ter medo dela. Dessa mulher virando-o pelo avesso.
Metendo-se em suas dobras. Em seu gozo. Exigindo sem pudores. Seu pau sempre
duro. Querendo ser metida. Fodida. Chupada. Lambida. Mordida. Ah, mordida...
Corpo orifícios pele. Em um longo exercício noite adentro. Em
regime de beijos.
Como chegara nisso até hoje não sabia. Ela mal conhecia aquele
rapaz. Na verdade, ela antes não conhecia. Antes, ela tranquila em sua casa.
Antes, ela vivendo a sua vida sem sobressaltos.
De novo, uma frase feita. No mínimo, previsível. Saberia até
enunciar qual a qualidade de escritora que desavergonhadamente imitava. Mas não
faria isso. Não. Manteria a frase e a pose. Continuaria a história.
Vivendo a sua vida sem sobressaltos. E ele chegara assim meio de
esguelha, “Como Quem Não Quer Nada”.
Ele a adicionara no facebook. Ela aceitara a “amizade” d´"O
Moço Que Fazia As Mesmas Coisas Que Ela". E que era também “O Rapaz Que
Curtia Suas Coisas”. E logo eram "Vai Me Ver Me Apresentando". E logo
eram "Vim Te Ver".
Dali para a cama fora um pulo. Noites intensas em que ela
representava sua entrega. Hoje percebia isso. Criara uma imagem de si.
Representara um papel de sim mesma. O de sempre, mais uma vez. Mas isso ela
guardava a sete chaves, não mostrava pra ninguém a profundidade de sua máscara.
Ela precisava trocar de pele.
O "Rapaz Que Parecia Diferente Dos Outros" porque
conversava com ela mesmo nos ataques de pânico, tinha entrado um pouco no seu
coração. Então, ela apressara o fim. E tão rápido quanto começou,
tudo terminara.
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