segunda-feira, 28 de maio de 2012

performatite: a cena inflamada


de 20 a 22 de maio, estivemos em ouro preto para o encontro de coletivos das di-ver-cidades, dentro do circuito performatite. e isso, pro obscena, foi uma felicidade, pois, desde o ano passado, estávamos projetando um encontro como esse, que possibilitasse a troca de práticas, a conversa e o broto de novos projetos junto a coletivos com os quais já havíamos iniciado um diálogo. juntou-se a isso, a oportunidade de pensá-lo dentro do circuito performatite, a partir da proposta de seu coordenador, weber cooper. o circuito integraria a 8ª semana de artes, coordenado pelos alunos do departamento de artes da ufop.
casou a fome com a vontade de comer. e lá estávamos nós, com mais quatro outros coletivos que, de algum modo, tinham, como a gente também tinha, sua história entrelaçada com a ufop e com ouro preto.
alguns eram coordenados por professoras que já haviam injetado, em sua passagem pelo departamento, esse vírus, essa inflamação da performance nos alunos de lá, e que agora estavam fazendo isso em outros cidades/estados, como a sandra parra - professora da uel e coordenadora das incríveis laranjas podres performáticas (londrina/pr) - e a eloísa brantes, professora da uerj e coordenadora do coletivo líquida ação (rio de janeiro/rj).
outros tinham surgido de grupos de pesquisa, de uma formação que integrava professores e/ou alunos do curso de artes cênicas do deart/ufop, como o próprio obscena. eram eles o n3ps - nômades permanentes pesquisam e performam, coletivo com o qual o obscena já vem trocando práticas e experiências e que é integrado por clarissa alcantara, que também foi professora do deart; e o coletivo quando coisa, este legitimamente ouropretano, ou seja, formado por pessoas vindas de outros lugares, todos alunos e egressos da ufop (paulinho maffei, everton lampe, marcelo fiorin, bárbara carbogim, thálita motta e henrique rocha) e também coletivo com o qual já havíamos trocado práticas.
o encontro de coletivos, em si, foi maravilhoso.
embora tenhamos tido pouco tempo para a conversa dentro do próprio encontro, a prolongávamos no bar, e dava certo. claro que, ainda assim, o tempo foi pouco. muito pouco.
ah, mas as práticas... ah, as práticas... daqui a pouco falo delas.
queria que os alunos tivessem aproveitado mais esse momento. poucos apareceram e nenhum esteve presente o tempo todo das trocas, participando de todas as ações. isso me fez pensar sobre a efetiva troca com a universidade, pois vi os alunos participando somente nos momentos mais claramente acadêmicos, como a palestra e a mesa-redonda. nós, que participamos de tudo, podemos dizer (eu, em meu nome): aproveitamos muito! (sinto, somente, não ter podido participar da ocupação deart, evento que também fazia parte do performatite e que era uma mostra dos projetos/trabalhos dos alunos do departamento, mas foi necessário prolongar o tempo do nosso trabalho entre coletivos).
no primeiro dia, após a palestra do leandro - que começou com um forte atraso, o que prejudicou o nosso encontro depois - tivemos pouquíssimo tempo para conversar e pensarmos juntos sobre como queríamos realizar nossas trocas, no dia seguinte, entre os coletivos e com os alunos do deart.
mas penso que as práticas superaram, em muito, essa ordem das coisas.
começou com a discotecagem, no próprio domingo dia 20. os obscênicos djs ninon, frida e djota arrasaram no comando da pista de dança, no bar tribus - o bar da semana de artes. claro, que com o insubstituível apoio do nosso homem, paupratodaobra, admarzinho fernandes...
dia seguinte, 9 horas da manhã, pronta para o trabalho. estávamos em menor número do que eu havia imaginado, a princípio. resolvemos, então, não separar mais em dois grupos e ficarmos todos juntos, fazendo a ação em conjunto. começamos com o ato/processo, proposto pelo n3ps: "é possível viver sem uma imagem de si mesmo?", era a questão que clarissa lançou como provocação.

foto de nina caetano

do ato/processo, experiência bastante forte, passamos para a dança com a cidade, proposta pelos laranjas podres. nesta, deveríamos sair aos pares e dançar a partir dos ruídos/estímulos da cidade. delícia.


vídeo de henrique rocha

na parte da tarde, como éramos praticamente os coletivos, resolvemos manter o grande grupo formado por todos nós e, juntos, partirmos para as ações coletivas. começamos com a maravilhosa proposta do coletivo quando coisa: fluxo queda. nesta, uma pequena fila indiana segue o fluxo de um transeunte, até que este é cortado. com o corte do fluxo, queda! a fila inteira caía ao chão.



vídeo de nina caetano

após o fluxoqueda, retornamos ao bloco b, para nos preparamos para um ritual, composto pela ação proposta pelo wagner, do n3ps, o bloco do silêncio, procissão que nos conduz à última ação do dia, o banho, proposta do coletivo líquida ação. que dia! intensidades.

foto de nina caetano

dia seguinte, era o dia do obscena. ou melhor, na parte da manhã, estavam concentradas nossas propostas e ações. pois, na parte da tarde, teríamos uma mesa-redonda em que todos os coletivos estariam presentes.
nesse dia, lamentavelmente, os laranjas podres não estavam mais com a gente e os alunos tinham desaparecido. então, éramos nós, líquida ação e quando coisa. resolvemos, então, pela simultaneidade (e possível incorporação) da ação coletiva "cadeiras", proposta pelo fred caiafa, às ações individuais dos pesquisadores do obscena. eram elas: o engaiolado do sorriso preso (matheus silva, incorporado pela joyce malta), os irmãos lambe lambe (clóvis domingos e leandro acácio), a mulher no palanque (lissandra guimarães) e mania de toalha, ritual de cura (saulo salomão). todos incorporaram as cadeiras - algumas intervenções, como o lambe-lambe, já trabalhavam com uma - e partimos para a rua, comigo e com fred também desenvolvendo nossas ações a partir do caráter mais aberto do que havia sido proposto por ele: experimentar, durante uma hora, relações com uma cadeira, no ambiente de rua.


fotos de thaís chilinque

eu, por meu lado, trabalhei com um elemento plástico: a cor vermelha. escolhi ser um bloco da cor, com todas as minhas roupas e acessórios em seus vários tons, exceto a bota que, como os pés da cadeira, eram pretas. equilíbrio. declive. pesos. experimentação de "pontos de vista" diversos. composições com as cores/formas da cidade. com as pessoas. esteve bom. quero mais.

foto de clarissa alcantara